O CONTO DA AIA


Mulher, você já se olhou no espelho hoje? Todos os seus traços femininos e só seus, partes suas que só você carrega, suas singularidades. Você é sua, se pertence. Pelo menos deveria ser assim, certo?

O conto da Aia é uma leitura fria e direta. Ele leva o leitor a uma reflexão profunda e, no meu caso, desesperadora. O livro puxa vários possíveis temas para discussão, você se identifica com inúmeras coisas e, diferente do que acontece em algumas distopias, sente um medo real. Parte desse medo vem da realidade que o livro trás, no primeiro momento ela pode parecer distante, mas é extremamente atual.

Pensa comigo, seria muito estranho se depois de uma guerra onde a  maioria das mulheres ficassem estéreis o nosso governo estimulasse de forma contínua a fecundação? Apenas considere, se hoje com o mundo quase que completamente povoado e pessoas nascendo aos montes todos os dias, mulheres que decidiram não ter filhos são postas em um lugar afastado e estranho da sociedade, imagine o que aconteceria se perdêssemos uma quantidade alarmante de úteros saudáveis e prontos para ter um bebê?



A sociedade vê a mulher como um bem coletivo, criado para o favor de todos e, eu sei que os tempos são outros e estamos melhores que antes, mas a objetificação da mulher é real e ainda existe. O discurso sobre como as mulheres são importantes começa a partir do que elas doam para o resto do mundo e de como, somente a partir disso,  elas são consideradas úteis.

Os pilares da sociedade.

As filhas da mãe Terra.

Costela de Adão.

Todos essas exclamações, todas as músicas compostas, elogiando nossos seios, pernas, olhos e cabelo. Enaltecendo nosso corpo, mas não o considerando nosso. Não realmente. Perguntam, qual o sentido de ter um útero para não ter um filho? Qual o sentido de poder ter leite nos seios e não querer amamentar? "Seu instinto materno é animal, maior do que o do pai, você precisa de um filho".

Eu só digo uma coisa, se dizem que o seu corpo não é seu, tome-o a força

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