RESENHA | Os Dois Fazendeiros, Matheus Zucato

"Desde que alberguemos uma única vez o mal, este não volta a dar-se ao trabalho de pedir que lhe concedamos a nossa confiança". É com essa frase de Franz Kafka que se inicia "Os Dois Fazendeiros", romance de estreia de Matheus Zucato, autor paulista de 24 anos e criado em Monte Sião (sul de Minas Gerais), que certamente influenciou a criação deste conto, que se passa na cidadezinha fictícia de Caminho da Fé, onde se passa essa história tensa, sobrenatural e aterrorizante.

Zucato conta em seu livro a história de dois fazendeiros velhos e viúvos, Enrico Manucci e João Pinto Brasta, que travaram uma guerra silenciosa há décadas: ambos querem as terras próximas ao rio, onde seus filhos desapareceram quando crianças e que ambos creem ser amaldiçoada. No dia em que este pavoroso conto ocorre, ambos acordam decididos a por um fim nesse impasse. Com métodos surpreendentes, relatos chocantes e grandes batalhas psicológicas, o conto nos conduz por caminhos obscuros a um final surpreendente e intrigante.

O número de páginas (são apenas 67) não é um empecilho para a criação de uma história condizente, com começo, meio e fim, e repleta de momentos dignos de King e Allan Poe - este último é citado como uma das grandes referências do autor. Vale ressaltar a organização do livro: ele é divido em três partes, uma na visão de cada fazendeiro e o desfecho - de tirar o fôlego -, todas bem construídas e interligadas. Temos acesso ao mais íntimo dos personagens principais em suas passagens, e vemos o que o luto e o orgulho são capazes de fazer com o ser humano.


A narrativa bem escrita, detalhista - com enfoque para as histórias sobrenaturais do fazendeiro Enrico e a morte das esposas (a mais aterrorizante, na minha opinião) - é a melhor parte deste conto, que nos deixa boquiabertos ao chegar ao final, repletos de dúvidas e intrigados. O livro me surpreendeu e vale a pena a leitura pelos grandes amantes dos contos de terror.